Por Ricardo Gondim
Os atos de retidão são preciosos aos olhos do Senhor. A idéia de que o homem foi criado à sua imagem e semelhança, foi interpretada, não como uma analogia do ser, e sim como uma analogia do fazer. O homem é chamado a agir à semelhança de Deus. “Seja tu misericordioso como Ele é misericordioso”.
O significado de ter sido criado à imagem de Deus está escondido em um enigma. Mas talvez possamos supor que a intenção era que o homem fosse uma testemunha de Deus, um símbolo Dele. Ao olhar o homem, deveríamos sentir Sua presença. Mas, em vez de viver como uma testemunha, o homem tornou-se um impostor; em vez de ser um símbolo, tornou-se um ídolo. Em sua indignada presunção, desenvolveu uma falsa sensação de soberania que preenche o mundo com terror.
Somos orgulhosos das façanhas de nossa civilização tecnológica. Mas nosso orgulho pode causar nossa suprema humilhação. O orgulho de sustentar que “a minha força e fortaleza das minhas mãos conseguiram estes bens” (Deuteronômio 8.17), nos levará a dizer “nosso deus” à obra de nossas mãos (Oséias 14.4).
Trememos ao pensar que em nossa civilização há uma força demoníaca que tenta se vingar de Deus. Depois que o homem comeu o fruto proibido, o Senhor expulsou-o do Paraíso para lavrar a terra da qual foi extraído. Mas o que fez o homem, que é mais sutil que qualquer outra criação de Deus? Empreendeu a construção de um paraíso por meio de seu próprio poder e está expulsando Deus desse Paraíso. Durante várias gerações as coisas pareciam estar bem. Mas agora descobrimos que nosso Paraíso está construído sobre um vulcão, podendo vir a ser um vasto campo de extermínio do homem.
Este é o momento de gritar: é vergonhoso ser humano. Ficamos constrangidos ao sermos chamados de religiosos diante do fracasso da religião em manter viva a imagem de Deus perante o homem. Vemos o que está escrito no muro, mas somos demasiado analfabetos para compreender o que quer dizer. Não há soluções fáceis para problemas sérios: tudo que podemos pregar honestamente é uma teologia do desânimo. Aprisionamos Deus em nossos templos e em nossos slogans, e agora a palavra de Deus está morrendo em nossos lábios. Deixamos de ser símbolos. Há escuridão no leste e presunção no oeste. E a noite? E a noite? O que é a História? Guerras, vitórias, e guerras. Muitos mortos. Muitas lágrimas. Pouco ressentimento. Muitos medos. E quem poderia julgar as vítimas da crueldade cujo horror se transforma em ódio? Será que é fácil impedir que o horror da maldade se converta em ódio contra os malvados? O mundo está encharcado de sangue e a culpa é interminável. Não se deve perder toda a esperança?
O que salvou os profetas do desespero foi sua visão messiânica e a idéia da capacidade do homem de se arrepender, o que influenciou sua compreensão da história. A história não é um beco sem saída, e a culpa não é um abismo. Sempre há um caminho pelo qual se pode sair da culpa: o arrependimento e o retorno a Deus. O profeta é uma pessoa que, mesmo vivendo no desalento, tem o poder de transcendê-lo. Acima da escuridão da experiência paira a visão de um dia diferente.
Egito e Assíria travaram guerras sangrentas. Odiando-se mutuamente, ambos são inimigos de Israel. Suas idolatrias são abomináveis e seus crimes terríveis. Como se sente Isaías, filho de um povo que aprecia o privilégio de ser chamado de “Meu povo” pelo Senhor a “obra de suas mãos” (Isaías 60.21), quando se refere ao Egito e à Assíria? Naquele dia haverá um caminho do Egito e da Assíria; os assírios entrarão no Egito, e os egípcios na Assíria; e os egípcios servirão com os assírios. Naquele dia Israel será parceiro do Egito e da Assíria; uma bênção no centro da terra, a qual Deus abençoou dizendo: Bendito meu povo do Egito, a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel, minha herança. Isaías 19.23-25.
Nosso Deus é também o Deus de nossos inimigos, sem que eles o conheçam e apesar de O desafiarem. A inimizade entre estas nações transformar-se-á em amizade. Viverão juntas quando juntas servirem a Deus. As três serão igualmente o povo escolhido de Deus.
(Antes de criticar os pensamentos acima, aconselho cautela. A falta de aspas (" ") é proposital. Nem uma palavra do que escrevi veio de minha pena. Eu as copiei todas de Abraham Joshua Heschel, um dos mais reverenciados rabinos do século XX, e um dos principais filósofos do judaísmo de todos os tempos).
Soli Deo Gloria.
Impressionante!!!
ResponderExcluirEsse tema é realmente polêmico, mas vale mesmo uma reflexão séria. Me surpreendeu essa visão em se tratando se um rabino.
ResponderExcluirPrecisamos mesmo de uma mensagem que denuncia o ódio, a violência e as guerras. Pois apesar de tanta perversidade,ainda a "história não é um beco sem saída,e a culpa não é um abismo". Isso é lindo e maravilhoso. Parabéns, por essa postagem.
ResponderExcluirPr. Adriano Machado, Seara, SC.
Novamente as pessoas tratam assuntos relevantes e verdadeiros, não nego, e utilizam-se da história para justificar seus argumentos, o que também é válido, mas normalmente seu conceito de história ainda está amarrado aquela história tradicional, apenas de grandes nomes, grandes guerras e conquistas, esqueçem-se que há muita subjetividade em como abordamos a história: através do materialismo histórico (marxista), da história social (annales) e ainda a "nova história, que ao invésw de partir dos grandes "fatos" que são escolhidos pelo historiador desde Heródoto, a vê "debaixo pra cima"(Hobsbawn), com suas representações e interrogações, a qual nem sempre o senso comum consegue fazê-lo.
ResponderExcluirAssim , cada fato e cada análise, trazem consigo o "dedo" de seu autor, suas experiências, leituras, vivencia social e familiar, espiritualidade e muito mais.
É por isso que a História afirma ( o q nós evangélicos abominamos) que não há somente uma verdade, e sim várias, cada um com a sua.
Afinal crer q somos todos iguais no coração , pensamentos e experiências de vida é no mínimo ingenuidade.
E respeito isso, sem é claro discordar da opinião de Ricardo Godin que muito respeito, nam do Rabino, que aparentemente na contramão de seus companheiros de sinagoga, ousou ter uma opinião diferente.
Parabéns pela reflexão.
É vergonhoso ser humano? Nãaaao! A razão é simples: o ser humano é a "obra prima de Deus". Vergonhoso é ver o ser humano escolhendo e adorando novos deuses. A teologia do ter assume proporções Dantescas. Jesus Cristo não é mais o foco da teologia.
ResponderExcluirO artigo em questão é bem filosófico.É um bom artigo para os intelectuais.Como todo escrito filosófico, fica no campo das idéias.O autor afirma que a visão messiânica salvou os
profetas. Concordo. Não só salvou os profetas como pode continuar salvando pessoas hoje.
Sim o nosso Deus ama os nossos inimigos, me desculpem a minha afirmação simplista: não só os ama como os quer salvar.
Quando Israel, o Egito e a Assíria retornarem para o Único caminho serão benção no centro da terra.
Obrigado, Jease por ter postado esse artigo.Contribuiu para uma reflexão melhor do Reino de Deus.