quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Nana, nenê, Papai já vai chegar

Por Luiz Sayão


A infantofobia está generalizada na sociedade contemporânea. Seu odor nausenate é a presença crescente da pedofilia. A discriminação é total: os nenês não têm vez no mundo de hoje. Nações ricas agonizam, pois seus cidadãos se recusam a ter filhos, condenando o futuro a ser povoado por idosos, aposentados e enfermos! Enquanto isso, a mídia em geral apresenta com frequência a defesa dos direitos dos mais diversos grupos: o direito dos negros, dos árabes, das mulheres, dos índios, dos adolescentes e de muitos outros grupos são plenamente manifestos. Mesmo que não seja uma unanimidade, as mais diversas preferências sexuais também recebem uma apologética contundente. Animais silvestres, plantas raras, gatos e cachorros também são contemplados – afinal, eles merecem seus direitos. Até mesmo objetos cúlticos populares são protegidos legalmente contra a prática da discriminação.

Já no caso dos nenês, isso não acontece. Os milhões de abortos praticados são entendidos e explicados a partir dos “problemas sociais”. Ora, esses nenês não existem! Só seriam gente se nascessem. Além disso, as centenas de nenês abandonados pelos pais merecem apenas dó; mas, a mãe, é claro, não tem culpa. Estava em depressão! Precisamos, todos, entender “o lado dela”. Se ela tivesse matado uma ararinha azul, aí sim!, seria um crime inafiançável, uma agressão contra o meio-ambiente. Mas, abandonar uma criança... Logo surgirá alguém advogando a ideia de que é preciso entender o que a levou a tomar tal atitude, “Não podemos julgá-la”, não é verdade?

Os nenês jogados pela janela pelas mães ou maltratados em casa deviam ter maturidade para entender que aquelas mulheres que os puseram no mundo sofrem com problemas de depressão e com o estresse. Que meninos malcriados! Infelizmente, não existe o sindicato de defesa dos nenês para reclamar o direito dos mesmos. Assim, a infantoclastia se generaliza numa sociedade egoísta, narcisista e sem amor natural.

Na Bíblia, porém, não é assim. Os nenês têm lugar especial, ainda que a maioria dos religiosos e teólogos não se importe muito com eles também. Nem mesmo os teólogos libertários, mais atentos a causas sociais, dão a atenção devida aos nenês! No caso de Deus, é diferente. É impressionante como o Senhor gosta de criancinhas. Para começar, sua primeira ordem para o primeiro casal criado era simples: “Sejam férteis e multipliquem-se” (Gênesis 1.28), ou seja, era como se o Criador dissesse: “Tenham nenês”. Quando Deus constrói sua história de salvação através da Bíblia, os nenês têm papel importante. E tem outra coisa – nunca nenhum nenê voltou-se contra Deus. Eles são gente finíssima! A preocupação dos patriarcas escolhidos por Deus no livro de Gênesis era ter nenês. A promessa de Deus começa com uma aliança com Abraão, a prometer-lhe um filho (Gênesis 15.4). Nessa aliança, Abraão, o homem de fé, só ficou realmente feliz quando nasceu o nenê de Sara, sua mulher. A alegria foi tanta que a criança passou a ser chamada de “riso”, que é o que significa o nome Isaque. Depois, quando Rebeca, mulher de Isaque, encontrou dificuldades para engravidar, a bondade de Deus manifestou-se na forma de dois nenês: Esaú e Jacó.

A história da redenção divina poderia concentrar-se apenas em grandes batalhas ou em visões metafísicas, mas Deus faz questão de mostrar a primazia do nenê. Toda vez que alguma coisa especial estava para acontecer aos hebreus, surgia um nenê. Quando o povo de Israel viu-se subjugado pelos egípcios, quem surgiu para libertá-los? Um arcanjo poderoso? Um guerreiro invencível? Que nada! De novo, um nenê – Moisés, que aliás era um menino bonito e extraordinário. E coube a ele, já adulto, a grandiosa tarefa de conduzir o povo de Deus para longe de seus algozes. O detalhe é que os homens maus odeiam os nenês. O faraó quis matar todos os garotos hebreus nascidos no cativeiro, mas Deus, que ama nenês, fez com que Moisés sobrevivesse justamente porque a filha do rei egípcio se afeiçoou à criaturinha que resgatou das águas. E o que dizer de Herodes, que séculos depois mandou matar todos os nenês de Israel, na tentativa de liquidar o recém-nascido Rei dos Judeus (Mateus 2.16-18)?

A história continua, e no final da época dos juízes – o momento mais crítico da história do povo de Israel –, outro nenê, muito desejado por Ana, sua mãe, fez a diferença. O nenê Samuel chegou e, entregue pela própria mãe para ser criado no Templo do Senhor, foi usado por Deus para conduzir espiritualmente os hebreus na construção de sua nação. A supervisão divina na formação de um nenê merece atenção especial na Bíblia. O salmista dá-nos os detalhes, valorizando o nenê ainda não nascido, digno perante Deus e sem valor para os homens maus: “Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são maravilhosas! Digo isso com convicção. Meus ossos não estavam escondidos de ti quando em secreto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir” (Salmo 139.13-16).

No aspecto teológico, os nenês também estão numa situação privilegiada. Por exemplo, a relação dos fiéis genuínos com Deus tem como paradigma as crianças de colo. Ninguém como elas parecem representar verdadeira espiritualidade – o que valeu a advertência de Cristo a seus discípulos: “Cuidado para não desprezarem um só destes pequeninos! Pois eu lhes digo que os anjos deles nos céus estão sempre vendo a face de meu Pai celeste” (Mateus 18.10). Quando chegamos ao campo da hermenêutica, ou da recepção e compreensão da revelação divina, novamente a vantagem é de quem é mais parecido com um nenê: “Naquela ocasião Jesus disse: ‘Eu te louvo, Pai, Senhor dos céus e da terra, porque escondeste estas coisas dos sábios e cultos, e as revelaste aos pequeninos [literalmente, os nenês]. Sim, Pai, pois assim foi do teu agrado’” (Mateus 11.25,26).

Hoje em dia há uma grande discussão litúrgica na igreja. Qual é o louvor correto? Que instrumento usar? Que estilo de música é o melhor para a adoração? Tradicional? Avivado? Contemporâneo? Devemos louvar de frente? De costas? Sem costas? De lado? Tudo bobagem! Quem tem a resposta? Adivinhe – de novo, os nenês. Basta ler a Bíblia. “Dos lábios das crianças e dos recém-nascidos suscitaste louvor” (Mateus 21.16). Aqui é até mais fácil entender: nenês não vendem CDs, não cantam para aparecer, são absolutamente sinceros e não têm aquele palavreado vazio de crente!

Talvez essa primazia dos nenês e a predileção divina por eles explique o ódio contra os pobres pequeninos. Imaginem só: no mundo dito civilizado, é um “direito” matar nenês antes que nasçam, e tudo dentro da lei, como na época no Estado nazista de Hitler, com sua política eugenista. Hoje, as nações do Primeiro Mundo estão sofrendo por falta de nenês. Perderam a esperança e o futuro. As pessoas instruídas, cultas e ricas não gostam de nenês. Essa é a verdadeira opressão! Os psicólogos gastam horas de trabalho ajudando muitas pessoas com problemas sérios e terríveis porque foram maltratados quando eram nenês. Que horror! Infelizmente, há até comércio de nenês. Que horror! Seres humanos são vendidos, vivos e mortos. Cuidado! O Deus, que é o Deus dos nenês, pode ficar irado e resolver agir.

A grande verdade é que o lugar dos nenês é tão especial que Deus resolveu mudar a história humana através de um deles. Em vez de descer diretamente do céu, ou de chegar repentinamente com um exército celestial para implantar seu Reino, o Senhor optou pela forma mais sublime de aproximar-se do homem: vir como um nenê. O evangelista Lucas descreveu o episódio com riqueza de detalhes: “Enquanto [Maria e José] estavam lá, chegou o tempo de nascer o bebê; e ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.” (Lucas 2.6-7)

Diante disso, vale aqui lembrar as palavras de Madre Teresa de Calcutá, que parece ter percebido grande parte dessa importante realidade: “Temos medo da guerra nuclear e dessa nova enfermidade que chamamos de Aids, mas matar crianças inocentes não nos assusta. O aborto é pior do que a fome, pior do que a guerra”. Aqui vai um conselho espiritual: antes de ler a Bíblia e de fazer suas orações, procure um nenê, que de preferência esteja dormindo, e passe uns dois minutos em silêncio, olhando bem para ele. Você ficará mais pronto para meditar e falar com Deus. Mas deixe o nenê dormir em paz. Nana, nenê, que Papai do céu já vai chegar!

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