segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A PREOCUPAÇÃO COM A APARÊNCIA: LIMITES PARA O CRISTÃO

Por Heleny Uccello Gama

Frequentemente, seres humanos padecem por não conseguirem enquadrar-se nos atuais padrões estéticos divulgados pela mídia. Nossa sociedade valoriza os muito jovens, magros e belos. Trata-se da ditadura da beleza. Augusto Cury, em romance com esse título, focaliza a síndrome do padrão inatingível de beleza, que acomete especialmente as mulheres; segundo ele, mais de 98% das mulheres em todo o mundo não se consideram belas e rejeitam suas características físicas.

Outro fato inegável é que, para homens e mulheres, o envelhecimento deixa marcas com as quais às vezes é difícil conviver. Quanto a crianças e adolescentes, estes também já enfrentam dificuldades para aceitar sua aparência. No início da adolescência, os pés parecem grandes demais, os membros superiores e inferiores, desengonçados; a altura ou é excessiva ou insuficiente, os cabelos são lisos demais ou de menos, a ditadura da magreza se impõe.

Em qualquer fase, se sentimentos negativos quanto à aparência pessoal não forem superados, pode haver rebaixamento da autoestima, o que talvez motive a busca de intervenções estéticas desnecessárias.

Além do tradicional público de mulheres, o número de homens e de adolescentes que se submetem a procedimentos cirúrgicos estéticos é crescente. O site www.cirurgiaplastica.com.br divulga que o Brasil hoje ocupa o segundo lugar no ranking mundial de cirurgias plásticas, perdendo somente para os Estados Unidos, e que nosso país é considerado o número um quanto ao aperfeiçoamento de novas técnicas e à qualificação dos cirurgiões.

Em face dessas informações, qual deve ser a posição de cada um de nós, cristãos, com respeito à aparência pessoal? É lícito preocupar-se com isso? Quais os limites para adoção dos procedimentos estéticos ao nosso dispor?

Alguns cristãos fundamentalistas criticam o que chamam de movimento da autoestima. Segundo eles, o foco é deslocado de Deus para o homem quando se diz que é preciso amar a si mesmo para que seja possível obedecer ao mandamento de amar ao próximo. A premissa fundamentalista é que não precisamos focar o amar a nós mesmos, pois quem cumpre os mandamentos de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo faz tudo certo com relação a si próprio também.

É possível que no meio cristão, infelizmente, algum orador, livro, sermão ou aconselhamento desloque o foco de Deus para o homem, dos mandamentos bíblicos para os desejos humanos. Em contraponto, como mesmo nós os salvos por Jesus, pela condição de ainda pecadores, não cumprimos na totalidade os dois mandamentos nos quais Cristo resumiu toda a lei e os profetas (Mateus 22.37-40), pelo menos em alguma medida, se não integralmente, disso nos advêm doenças emocionais e físicas.

Pela impossibilidade de na vida terrena se atingir a estatura da plenitude de Cristo (Efésios 4.13), ninguém faz tudo certo com relação a Deus, ao próximo e a si mesmo. Sendo assim, a crítica da autoestima me soa um tanto reducionista. Penso que devemos buscar posição equilibrada. Nem mudar o foco de Deus para o homem nem adotar o fundamentalismo iracundo que observo em certos autores; nem submissão à tirania do belo nem rejeição dos avanços científicos que possam trazer alívio de problemas e complexos.

Não creio que seja possível estabelecer regras rígidas quanto à adoção de procedimentos estéticos, mas entendo que, como tudo o mais nas nossas vidas, essas decisões devem ser pautadas pelos princípios bíblicos e por senso de equilíbrio. Em Romanos 12.3, encontramos: ... exorto a cada um dentre vós que não considere a si mesmo além do que convém; mas, ao contrário, tenha uma autoimagem equilibrada, de acordo com a medida da fé que Deus lhe proporcionou. À luz das palavras do apóstolo Paulo, cada um na medida da sua fé deve ir ajustando a autoimagem. Manter conhecimento e apreciação de si mesmo como de fato é: alguém definiu assim a pessoa humilde, ou que possui humildade, característica tão exemplificada e recomendada por Jesus (Mateus 5.3, João 13.1-5).

Antes de mais nada, nossas ações devem ser orientadas pela fidelidade a Deus. Buscai, assim, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas (Mateus 6.33). Parece-me possível honrar a Deus - em primeiro lugar - e também cuidar de si mesmo, confiando n’Ele e submetendo-lhe as decisões pessoais a serem tomadas.

Se um cristão está convicto de que certa correção estética melhoraria a sua autoimagem (necessidade), se honra as obrigações para com a família, a igreja e a sociedade, e se dispõe de recursos financeiros para adotar procedimento estético cogitado (possibilidade), a presença desse binômio necessidade/possibilidade, expressão que tomo emprestada do direito, parece-me indicar que a decisão por submeter-se ao procedimento possa ser tomada.

É importante também avaliar a razoabilidade das intervenções estéticas desejadas. Em casos de transtorno da imagem, convém passar por aconselhamento ou terapia de apoio psicológico e assim, quem sabe, a autopercepção se ajuste e procedimentos cirúrgicos venham a ser dispensados. Quanto à correção de reais problemas estéticos, deve-se tomar o cuidado de consultar profissionais competentes e idôneos, para evitar exageros ou seqüelas.

Finalmente, é bom lembrar que cada um de nós possui beleza física e psíquica particular e única, nas palavras de Augusto Cury; e, mais ainda, devemos ter sempre em mente que a beleza de um ser humano não está na aparência nem nos demais recursos, bens ou características que possua, mas em que, conforme Isaías 43.7, foi criado por Deus para a Sua glória.

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