Por: Jease Costa
A história registrada nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), e que algumas traduções intitulam como a história do “mancebo de qualidades”, deve nos levar a fazer uma reflexão séria a respeito do que de fato importa para Deus em nossa postura como igreja. É provável que, à semelhança do jovem rico da história, muitos de nós estejamos valorizando o que não é o mais importante para Deus. Talvez isso explique o porquê de a interferência da igreja ser tão tímida em seu contexto, e o seu brilho estar tão ofuscado num mundo que vive tão carente de luz.
Sempre que faço uma abordagem dos aspectos negativos da igreja e dos crentes em particular, me sinto no dever de admitir que de fato há muitas igrejas locais e muitos crentes que dignificam o evangelho de Jesus. Entretanto, não há como negar que nossa geração de crentes não é a melhor das gerações. Estamos realmente carentes de uma releitura séria a respeito de nossa postura como filhos de Deus e de nossa visão do que seja um evangelho autêntico, sadio e que tenha condições de reproduzir a vida de Jesus.
Na postura do jevem rico e de qualidades de que trata os evangelhos, é possível identificar os mesmos elementos da prática de fé que muitos de nós valorizamos, mas que não é o que mais importa para Deus. Não que esses elementos não sejam imbuídos de valor em seus devidos lugares, mas que neles não se encerra a essência da verdadeira religiosidade bíblica.
O texto de Marcos 10.17 afirma que o jovem “correu ao encontro de Jesus e se pôs de joelhos”. Colocar-se de joelhos diante de Jesus é um ritual adequado diante do reconhecimento de que ele é, de fato, o Senhor. Mesmo que aquele jovem não tivesse essa mesma noção que nós temos de Jesus como Senhor, é fato que ele o reconhecia como alguém digno de reverência. Ele se prostrou diante de Jesus. Nós, da mesma forma, também temos nossos rituais religiosos, nossas tradições ritualísticas que expressam reverência diante da soberania de Deus. Também nos ajoelhamos para orar. Além disso, instruímos os membros de nossas igrejas a que tenham atitude de reverência durante os momentos de celebração nos cultos, pois, além de todos os outros motivos, devemos ter respeito pela pessoa de Deus, que é o motivo do culto. É bem verdade que essa noção de reverência diante de Deus hoje não faz muito sentido em alguns segmentos ditos evangélicos que têm surgido por aí. Entretanto, todos temos um certo ritual, uma certa atitude de reverência diante da noção da soberania de Deus.
Marcos também diz que o jovem, ao ajoelhar-se diante de Jesus, faz um discurso se utilizando de palavras adequadas. Ele diz: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” Veja bem, além de uma postura ritualística adequada, aquele jovem também tinha uma linguagem adequada. Porém, a resposta de Jesus, além de mostrar que seu propósito era revelar o Pai, mostra também que ele não se impressionou com aquela linguagem elevada. Nós também temos uma linguagem apropriada em nossas expressões religiosas. Não temos apenas tradições e ritos. Também temos linguagem adeqauada, nossos jargões evangélicos, nossas frases de efeito espirituais. Isso não é errado, mas também não impressiona a Jesus.
Depois, então, a cartada final do jovem de qualidades. Se Jesus não se impressionou com sua prática ritualística e com suas palavras de elevado padrão espiritual, certamente se impressionaria com sua prática religiosa. Ao responder a instrução de Jesus quanto ao cumprimento da Lei, ele diz prontamente: “Mestre, a tudo isso tenho obedecido desde a minha adolescência” (Mc. 10.20). Assim, ele aparentava um religioso perfeito. Tinha tudo o que se julgava necessário para uma religiosidade considerada adequada: tradições e rituais religiosos, linguagem religiosa e atitudes religiosas. Porém, a palavra de Jesus surpreendentemente foi: “Falta-lhe uma coisa”. Isso soa estranho, não é mesmo? Pois o que mais poderia faltar? Porém para Jesus não bastam rituais, linguajar e atitudes religiosas adequadas se não forem acompanhados por um amor profundo por ele mesmo e pelos semelhantes.
É impressionante como sobram rituais religiosos, linguagens religiosas e até mesmo práticas doutrinárias religiosas, mas falta tanto amor por Jesus. Um amor por ele a ponto de tudo o mais vir a ser considerado como refugo, e a ponto de também, se necessário, abrirmos mão do que temos ou até de nós mesmos em benefício do semelhante. Falta amor por Jesus e pelo próximo. Cristo não é amado e os necessitados continuam necessitados. Há muitas igrejas tão ricas em termos de tradições e posturas, mas tão pobres em amor. À semelhança do jovem de qualidades, nós também temos muitas qualidades, mas igualmente ainda nos falta uma coisa. É possível que estejamos direcionando o foco no que não é mais importante. Às vezes achamos que estamos impressionando a Jesus, mas ele insiste em nos dizer que ainda nos falta uma coisa. Somos muito apegados a nós mesmos e ao que temos. Há igrejas que se orgulham de seu patrimônio, da exubarância de seu prédio, e do elevado volume de dinheiro arrecadado com os dízimos e ofertas. E muitas das que não têm todos esses recursos encerram em tê-los a razão de sua luta e trabalho. Aí cresce o orgulho, a insensibilidade para com as necassidades alheias e até mesmo se perde a visão da presença de Jesus. Nesse caso, de nada adianta para Deus as tradições, o discurso elevado e o rigor na prática de doutrinas e leis. Ainda continuará faltando-nos uma coisa.
Acho que é hora de avaliarmos o que somos e o que pede de fato o evangelho de Jesus, para depois fazermos uma decisão sincera a respeito de que tipo de igreja queremos ser. Ou uma igreja que ama incondicionalmente a Jesus e espalha esse amor pela humanidade, ou apenas uma igreja cheia de qualidades. Que Deus nos dê a graça de que quando entrarmos em sua presença jamais venhamos ouvi-lo dizer: “ainda te falta uma coisa”.
OLÁ PR JEASE, QUE MENSAGEM PROFUNDA,TOCOU-ME SENTIMENTAL E ESPIRITUALMENTE.ABRAÇOS,DEUS CONTINUE LHE ABENÇOOANDO.
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