Por: Jease Costa
Esse tema já está vastamente
abordado por grandes pensadores, tanto no meio religioso quanto no secular. Portanto,
esse texto não tem a pretensão de ser uma voz que se destaque entre tantas que
já ecoam de forma tão lúcida sobre o tema. Quero apenas compartilhar um
pensamento com o propósito de provocar em você uma reflexão a mais, e, quem
sabe, possa lhe ser útil tanto do ponto de vista da construção do pensamento
quanto do pragmatismo, uma vez que todos nós precisamos, volta e meia, desatar
os nós das crises existenciais que a dor implacavelmente nos impõe.
A problemática do sofrimento não
faz parte do escopo da ciência, mas da filosofia e da religião, e por isso não
há como concluir com precisão cartesiana a resposta para essa difícil questão.
Entretanto, minha opinião não parte, a princípio, da análise do pensamento
cristão, mas do pensamento budista. Diz o budismo que “viver é sofrer”. Bem, se
isso for verdadeiro, então não há saída para o problema existencial, uma vez
que um dos grandes objetivos da vida, da luta, da fé e, até mesmo, do
sofrimento humano é justamente alcançar o bem-estar tanto individual quanto
social. Mas se viver é sofrer, encerra-se aí todo o sentido da busca humana. Assim,
me parece que essa visão é extremamente pessimista e não resolve a grande questão.
Temos também, entre outros, os
pensamentos judaico e espírita que em um aspecto se assemelham, mas que se
divergem, entre outros aspectos, quanto ao fator tempo. Para o espírita, o sofrimento é resultado do
mau comportamento em encarnações passadas. Se um indivíduo age mal nessa
encarnação, é possível que na próxima venha a padecer em algum aspecto da vida
a fim de passar por um processo de purificação, ao mesmo tempo em que de
justiça, para que em encarnações futuras venha a alcançar uma condição de vida
mais elevada. Já o pensamento judaico, se assemelha quanto ao fato de que o
sofrimento é resultado de erros e pecados cometidos. Quem lê o livro de Jó percebe
esse conceito com muita clareza, e é justamente esse conceito que faz com que a
crise de Jó se agrave, uma vez que a vida dele estava experimentando uma tremenda
contradição conceitual. Ou seja, se o sofrimento é resultado do pecado, como
ele estava sofrendo tanto, já que seu comportamento até então era íntegro, reto
e distante do mal? A diferença quanto ao conceito espírita é que, não crendo na
reencarnação, o hebreu entendia que a punição se dá aqui e agora.
Entre outras respostas que se tem
procurado dar ao longo dos tempos para a questão do sofrimento humano, devemos,
portanto, procurar a resposta cristã. Bem, além do fato de a teologia atribuir
a entrada do sofrimento na experiência humana à entrada do pecado, parece-me
que o cristianismo não tem como preocupação principal responder a essa questão
de forma que vá além desse conceito teológico apresentado. Por isso, o
cristianismo, ao invés de procurar responder sobre o porquê do sofrimento
humano, oferece uma proposta de conduta frente a essa realidade inescapável. E
sua proposta é justamente o enfrentamento.
São palavras de Jesus: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo. Eu venci
o mundo.” O cristianismo entende que mais produtivo do que avaliar o porquê do
sofrimento é apresentar uma proposta de conduta, de comportamento. O
cristianismo entende que o indivíduo, com base na fé em Deus e na convicção de sua presença
em todos os momentos de sua existência, deve enfrentar a vida com esperança. A
palavra de Jesus não é: “recue”, “desista” ou "fuja”, mas, antes, “Enfrente! Vamos
juntos.”
Mas a teologia vigente tem
deturpado esse conceito cristão. Hoje prega-se um cristianismo que estimula as
facilidades, a ausência da dor e o menosprezo ao sofrimento. Entretanto, isso é
uma distorção dos pressupostos do evangelho de Jesus. Stanley Jones, em seu
livro “Cristo e o Sofrimento Humano” diz muito acertadamente que “Deus não nos
trata como crianças mimadas”, e que “uma criança mimada é uma criança estragada”.
Jesus, de acordo com o profeta Isaías, é o “Servo Sofredor”. Além do mais, o
cristianismo entende que o aperfeiçoamento da vida ocorre na tormenta. O apóstolo
Paulo, em sua carta aos filipenses disse: “Sei passar por todo tipo de
sofrimentos [...] Portanto, em tudo já estou experimentado”. E de igual modo não
foi na passagem pelo Mar Vermelho que o povo hebreu se aperfeiçoou e se
fortaleceu, mas na dureza do deserto. Não foram aquelas horas de travessia do
mar que o aperfeiçoou, mas os 40 anos de deserto.
Portanto, não creio que seja tão
produtivo ficar procurando respostas ou os porquês do sofrimento humano. Mais
importante é acatar a palavra de Jesus: “Tende bom ânimo!” O cristianismo nos
chama para o enfrentamento. E é bom que seja assim. Deus não nos quer crianças
imaturas, mas, antes, homens e mulheres maduros e que tenham recursos internos
para enfrentar a vida. Viver não é sofrer. Viver implica em sofrer. E ser cristão,
mesmo em meio à dor, implica em viver. Portanto, ânimo!