Por: Jease Costa
Em face da realidade de um mundo altamente egocentrista, o que tem minado as relações interpessoais e sociais e comprometido o caráter até mesmo de muitos cristãos, geralmente nosso discurso tem caminhado na direção em que se procura levar as pessoas a serem mais solidárias e a procurarem enxergar o mundo além de si mesmas e de suas necessidades pessoais, considerando o outro, suas carências e dores. Realmente o mundo seria melhor se, à semelhança de Cristo, tivéssemos os olhos mais voltados para nossos semelhantes. Entretanto, há momentos em que, para que haja progresso, nossa visão deve volta-se para nós mesmos. Pensando na igreja, por exemplo, e em seu ministério, para que seja bem sucedida é necessário que cada um pense na responsabilidade como sendo pessoal. É comum, ao percebermos que algo não está bem, culparmos os outros. Ora o líder do evangelismo não tem dinamismo, ora o professor da EBD não é bem preparado, ora o diretor do patrimônio não é bom administrador, ora o pastor é fraco e não tem condições de conduzir o rebanho. Parece que são sempre os outros os culpados, como se nós não fizéssemos parte do grupo.
A igreja de Jesus é uma comunidade participativa, onde todos têm sua parcela de responsabilidade para que haja progresso e sucesso no cumprimento da sua missão. Ao invés de procurar culpados pelas as falhas, cada um deveria colocar-se a si mesmo com instrumento de mudança da realidade e apresentar-se como canal de bênçãos para o Reino. Ao invés de dizer o que os outros deveriam estar fazendo, cada um deveria procurar descobrir o que pessoalmente poderia fazer para que a igreja seja melhor, mais forte, mais atraente.
Quando Neemias teve notícias a respeito da situação de Jerusalém não ficou perdendo tempo procurando os culpados pela situação deprimente da Cidade Santa. Mas, ao contrário, apresentou-se diante de Deus e do rei como o meio pelo qual a situação poderia ser mudada. Precisamos de mais Neemias e de menos Sambalates em nosso meio. Sambalate foi aquele que, ao saber que os judeus estavam empenhados na reconstrução dos muros, irou-se e escarneceu deles. Há Sambalates de mais e Neemias de menos. Há muitos irados e escarnecedores em nossas igrejas. Desses não precisamos; o Reino não precisa; a vida não precisa; Deus não precisa.
Outro texto bíblico importante que vale lembrar é o registrado na carta aos Hebreus (Cap. 11 e 12), onde o autor mostra alguns aspectos práticos da fé. Depois de listar uma grande nuvem de testemunhas que atestaram a validade da fé, apresenta como primeiro desses aspectos práticos a necessidade de os cristãos “abandonarem o peso”. É importante anotar que a fé não é algo que apenas se compreende, mas, fundamentalmente, que se pratica. Fé não é uma disposição mental ou intelectual, mas uma disposição de vida. O crente não apenas tem fé, mas “pratica” a fé. E uma forma de praticá-la é abandonando o peso. Naquele caso, o “peso” não é o pecado, pois deste o autor aborda logo em seguida. O peso é tudo o que atrapalha o alcance do alvo da missão da igreja. Nesse sentido, não creio que seja inadequado entender a inclinação excessivamente crítica e a indisposição pessoal para uma contribuição positiva no contexto do Reino como sendo um peso que impede a caminhada de fé da igreja. Ou seja, quando nós apenas apontamos nos outros suas falhas e lhes apresentamos o que deveriam fazer para que o trabalho andasse melhor, sem nos colocarmos como instrumentos para um melhor desenvolvimento da obra, estamos assumindo uma condição de peso que atrapalha o Reino.
De fato, num mundo cada vez mais individualista e egocentrista é adequado e salutar termos olhos que enxerguem o outro, o próximo, suas necessidades. Entretanto, se esse olhar para o outro se traduz numa postura excessivamente crítica e num meio de nos eximirmos de nossas responsabilidades no contexto do cumprimento da missão do Reino, estamos canalizando a visão na direção errada. Nesse caso maior grandeza teríamos se olhássemos para nós mesmos. Há casos em que devemos olhar para o próximo, mas há outros que o melhor é olhar para nós mesmos.
De que forma você se apresenta diante da grande tarefa que nos cabe como membros do corpo de Cristo aqui na terra? Suas mãos estão postas nos remos ou você é apenas um peso a mais que atrapalha o percurso da embarcação?
Pense nisso.
Este blog destina-se a oferecer um ponto de vista do cotidiano à luz dos valores do Reino de Deus
sábado, 30 de outubro de 2010
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Oração na Angústia
Por: Jease Costa
“Inclina, ó Senhor, o teu ouvido, e ouve; abre, ó Senhor, os teus olhos, e vê; e ouve as palavras de Senaqueribe, com as quais enviou seu mensageiro para afrontar o Deus vivo” ( 2 Reis 19.16).
A relação com Deus não diminui nossa humanidade. Assim, comete erro quem ensina que a vida de fé autêntica deverá nos livrar de todas as adversidades e angústias. Se isso fosse verdadeiro do ponto de vista da religiosidade bíblica, a fé não seria instrumento de acesso à vitória, mas de fuga. Entretanto, a fé autêntica não nos torna imunes às adversidades e angústias, mas, ao contrário, nos faz prevalecer sobre elas. Por elas passamos, mas não sucumbimos.
Esse acontecimento na vida de Ezequias, rei de Judá, e que o motivou a fazer a oração exposta no versículo acima, nos ensina que, do ponto de vista das circunstâncias, todos estamos sob as mesmas possibilidades. Tanto o rei Ezequias, servo do Senhor, quanto os outros reis pagãos passaram pela mesma ameaça de destruição por parte de Senaqueribe, rei da Assíria. Isso, inclusive, foi um dos argumentos usados por seus generais para intimidar Ezequias. Assim, crentes e descrentes estão sujeitos a toda sorte de adversidades. A vida é igual para todos. Qual o diferencial, então? O diferencial é a fé. Aquele que serve a Deus não está sozinho na hora da angústia, pois a Ele tem acesso através da oração. Aquele que não crê em Deus sucumbe, mas aquele que nEle crê e o busca, prevalece quando a angústia vem.
Se você está passando por tribulações, não se desanime e nem deixe sua fé esmorecer. Da mesma forma que Ezequias prevaleceu sobre a ameaça de domínio da Assíria como resposta à oração, você também vai prevalecer, pois o mesmo Deus que ouviu a Ezequias está ao seu lado pronto para ouvir, também, seu clamor. A posição de vitória inclui o dobrar dos joelhos.
“Inclina, ó Senhor, o teu ouvido, e ouve; abre, ó Senhor, os teus olhos, e vê; e ouve as palavras de Senaqueribe, com as quais enviou seu mensageiro para afrontar o Deus vivo” ( 2 Reis 19.16).
A relação com Deus não diminui nossa humanidade. Assim, comete erro quem ensina que a vida de fé autêntica deverá nos livrar de todas as adversidades e angústias. Se isso fosse verdadeiro do ponto de vista da religiosidade bíblica, a fé não seria instrumento de acesso à vitória, mas de fuga. Entretanto, a fé autêntica não nos torna imunes às adversidades e angústias, mas, ao contrário, nos faz prevalecer sobre elas. Por elas passamos, mas não sucumbimos.
Esse acontecimento na vida de Ezequias, rei de Judá, e que o motivou a fazer a oração exposta no versículo acima, nos ensina que, do ponto de vista das circunstâncias, todos estamos sob as mesmas possibilidades. Tanto o rei Ezequias, servo do Senhor, quanto os outros reis pagãos passaram pela mesma ameaça de destruição por parte de Senaqueribe, rei da Assíria. Isso, inclusive, foi um dos argumentos usados por seus generais para intimidar Ezequias. Assim, crentes e descrentes estão sujeitos a toda sorte de adversidades. A vida é igual para todos. Qual o diferencial, então? O diferencial é a fé. Aquele que serve a Deus não está sozinho na hora da angústia, pois a Ele tem acesso através da oração. Aquele que não crê em Deus sucumbe, mas aquele que nEle crê e o busca, prevalece quando a angústia vem.
Se você está passando por tribulações, não se desanime e nem deixe sua fé esmorecer. Da mesma forma que Ezequias prevaleceu sobre a ameaça de domínio da Assíria como resposta à oração, você também vai prevalecer, pois o mesmo Deus que ouviu a Ezequias está ao seu lado pronto para ouvir, também, seu clamor. A posição de vitória inclui o dobrar dos joelhos.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
A IGREJA DE QUALIDADES
Por: Jease Costa
A história registrada nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), e que algumas traduções intitulam como a história do “mancebo de qualidades”, deve nos levar a fazer uma reflexão séria a respeito do que de fato importa para Deus em nossa postura como igreja. É provável que, à semelhança do jovem rico da história, muitos de nós estejamos valorizando o que não é o mais importante para Deus. Talvez isso explique o porquê de a interferência da igreja ser tão tímida em seu contexto, e o seu brilho estar tão ofuscado num mundo que vive tão carente de luz.
Sempre que faço uma abordagem dos aspectos negativos da igreja e dos crentes em particular, me sinto no dever de admitir que de fato há muitas igrejas locais e muitos crentes que dignificam o evangelho de Jesus. Entretanto, não há como negar que nossa geração de crentes não é a melhor das gerações. Estamos realmente carentes de uma releitura séria a respeito de nossa postura como filhos de Deus e de nossa visão do que seja um evangelho autêntico, sadio e que tenha condições de reproduzir a vida de Jesus.
Na postura do jevem rico e de qualidades de que trata os evangelhos, é possível identificar os mesmos elementos da prática de fé que muitos de nós valorizamos, mas que não é o que mais importa para Deus. Não que esses elementos não sejam imbuídos de valor em seus devidos lugares, mas que neles não se encerra a essência da verdadeira religiosidade bíblica.
O texto de Marcos 10.17 afirma que o jovem “correu ao encontro de Jesus e se pôs de joelhos”. Colocar-se de joelhos diante de Jesus é um ritual adequado diante do reconhecimento de que ele é, de fato, o Senhor. Mesmo que aquele jovem não tivesse essa mesma noção que nós temos de Jesus como Senhor, é fato que ele o reconhecia como alguém digno de reverência. Ele se prostrou diante de Jesus. Nós, da mesma forma, também temos nossos rituais religiosos, nossas tradições ritualísticas que expressam reverência diante da soberania de Deus. Também nos ajoelhamos para orar. Além disso, instruímos os membros de nossas igrejas a que tenham atitude de reverência durante os momentos de celebração nos cultos, pois, além de todos os outros motivos, devemos ter respeito pela pessoa de Deus, que é o motivo do culto. É bem verdade que essa noção de reverência diante de Deus hoje não faz muito sentido em alguns segmentos ditos evangélicos que têm surgido por aí. Entretanto, todos temos um certo ritual, uma certa atitude de reverência diante da noção da soberania de Deus.
Marcos também diz que o jovem, ao ajoelhar-se diante de Jesus, faz um discurso se utilizando de palavras adequadas. Ele diz: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” Veja bem, além de uma postura ritualística adequada, aquele jovem também tinha uma linguagem adequada. Porém, a resposta de Jesus, além de mostrar que seu propósito era revelar o Pai, mostra também que ele não se impressionou com aquela linguagem elevada. Nós também temos uma linguagem apropriada em nossas expressões religiosas. Não temos apenas tradições e ritos. Também temos linguagem adeqauada, nossos jargões evangélicos, nossas frases de efeito espirituais. Isso não é errado, mas também não impressiona a Jesus.
Depois, então, a cartada final do jovem de qualidades. Se Jesus não se impressionou com sua prática ritualística e com suas palavras de elevado padrão espiritual, certamente se impressionaria com sua prática religiosa. Ao responder a instrução de Jesus quanto ao cumprimento da Lei, ele diz prontamente: “Mestre, a tudo isso tenho obedecido desde a minha adolescência” (Mc. 10.20). Assim, ele aparentava um religioso perfeito. Tinha tudo o que se julgava necessário para uma religiosidade considerada adequada: tradições e rituais religiosos, linguagem religiosa e atitudes religiosas. Porém, a palavra de Jesus surpreendentemente foi: “Falta-lhe uma coisa”. Isso soa estranho, não é mesmo? Pois o que mais poderia faltar? Porém para Jesus não bastam rituais, linguajar e atitudes religiosas adequadas se não forem acompanhados por um amor profundo por ele mesmo e pelos semelhantes.
É impressionante como sobram rituais religiosos, linguagens religiosas e até mesmo práticas doutrinárias religiosas, mas falta tanto amor por Jesus. Um amor por ele a ponto de tudo o mais vir a ser considerado como refugo, e a ponto de também, se necessário, abrirmos mão do que temos ou até de nós mesmos em benefício do semelhante. Falta amor por Jesus e pelo próximo. Cristo não é amado e os necessitados continuam necessitados. Há muitas igrejas tão ricas em termos de tradições e posturas, mas tão pobres em amor. À semelhança do jovem de qualidades, nós também temos muitas qualidades, mas igualmente ainda nos falta uma coisa. É possível que estejamos direcionando o foco no que não é mais importante. Às vezes achamos que estamos impressionando a Jesus, mas ele insiste em nos dizer que ainda nos falta uma coisa. Somos muito apegados a nós mesmos e ao que temos. Há igrejas que se orgulham de seu patrimônio, da exubarância de seu prédio, e do elevado volume de dinheiro arrecadado com os dízimos e ofertas. E muitas das que não têm todos esses recursos encerram em tê-los a razão de sua luta e trabalho. Aí cresce o orgulho, a insensibilidade para com as necassidades alheias e até mesmo se perde a visão da presença de Jesus. Nesse caso, de nada adianta para Deus as tradições, o discurso elevado e o rigor na prática de doutrinas e leis. Ainda continuará faltando-nos uma coisa.
Acho que é hora de avaliarmos o que somos e o que pede de fato o evangelho de Jesus, para depois fazermos uma decisão sincera a respeito de que tipo de igreja queremos ser. Ou uma igreja que ama incondicionalmente a Jesus e espalha esse amor pela humanidade, ou apenas uma igreja cheia de qualidades. Que Deus nos dê a graça de que quando entrarmos em sua presença jamais venhamos ouvi-lo dizer: “ainda te falta uma coisa”.
A história registrada nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), e que algumas traduções intitulam como a história do “mancebo de qualidades”, deve nos levar a fazer uma reflexão séria a respeito do que de fato importa para Deus em nossa postura como igreja. É provável que, à semelhança do jovem rico da história, muitos de nós estejamos valorizando o que não é o mais importante para Deus. Talvez isso explique o porquê de a interferência da igreja ser tão tímida em seu contexto, e o seu brilho estar tão ofuscado num mundo que vive tão carente de luz.
Sempre que faço uma abordagem dos aspectos negativos da igreja e dos crentes em particular, me sinto no dever de admitir que de fato há muitas igrejas locais e muitos crentes que dignificam o evangelho de Jesus. Entretanto, não há como negar que nossa geração de crentes não é a melhor das gerações. Estamos realmente carentes de uma releitura séria a respeito de nossa postura como filhos de Deus e de nossa visão do que seja um evangelho autêntico, sadio e que tenha condições de reproduzir a vida de Jesus.
Na postura do jevem rico e de qualidades de que trata os evangelhos, é possível identificar os mesmos elementos da prática de fé que muitos de nós valorizamos, mas que não é o que mais importa para Deus. Não que esses elementos não sejam imbuídos de valor em seus devidos lugares, mas que neles não se encerra a essência da verdadeira religiosidade bíblica.
O texto de Marcos 10.17 afirma que o jovem “correu ao encontro de Jesus e se pôs de joelhos”. Colocar-se de joelhos diante de Jesus é um ritual adequado diante do reconhecimento de que ele é, de fato, o Senhor. Mesmo que aquele jovem não tivesse essa mesma noção que nós temos de Jesus como Senhor, é fato que ele o reconhecia como alguém digno de reverência. Ele se prostrou diante de Jesus. Nós, da mesma forma, também temos nossos rituais religiosos, nossas tradições ritualísticas que expressam reverência diante da soberania de Deus. Também nos ajoelhamos para orar. Além disso, instruímos os membros de nossas igrejas a que tenham atitude de reverência durante os momentos de celebração nos cultos, pois, além de todos os outros motivos, devemos ter respeito pela pessoa de Deus, que é o motivo do culto. É bem verdade que essa noção de reverência diante de Deus hoje não faz muito sentido em alguns segmentos ditos evangélicos que têm surgido por aí. Entretanto, todos temos um certo ritual, uma certa atitude de reverência diante da noção da soberania de Deus.
Marcos também diz que o jovem, ao ajoelhar-se diante de Jesus, faz um discurso se utilizando de palavras adequadas. Ele diz: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” Veja bem, além de uma postura ritualística adequada, aquele jovem também tinha uma linguagem adequada. Porém, a resposta de Jesus, além de mostrar que seu propósito era revelar o Pai, mostra também que ele não se impressionou com aquela linguagem elevada. Nós também temos uma linguagem apropriada em nossas expressões religiosas. Não temos apenas tradições e ritos. Também temos linguagem adeqauada, nossos jargões evangélicos, nossas frases de efeito espirituais. Isso não é errado, mas também não impressiona a Jesus.
Depois, então, a cartada final do jovem de qualidades. Se Jesus não se impressionou com sua prática ritualística e com suas palavras de elevado padrão espiritual, certamente se impressionaria com sua prática religiosa. Ao responder a instrução de Jesus quanto ao cumprimento da Lei, ele diz prontamente: “Mestre, a tudo isso tenho obedecido desde a minha adolescência” (Mc. 10.20). Assim, ele aparentava um religioso perfeito. Tinha tudo o que se julgava necessário para uma religiosidade considerada adequada: tradições e rituais religiosos, linguagem religiosa e atitudes religiosas. Porém, a palavra de Jesus surpreendentemente foi: “Falta-lhe uma coisa”. Isso soa estranho, não é mesmo? Pois o que mais poderia faltar? Porém para Jesus não bastam rituais, linguajar e atitudes religiosas adequadas se não forem acompanhados por um amor profundo por ele mesmo e pelos semelhantes.
É impressionante como sobram rituais religiosos, linguagens religiosas e até mesmo práticas doutrinárias religiosas, mas falta tanto amor por Jesus. Um amor por ele a ponto de tudo o mais vir a ser considerado como refugo, e a ponto de também, se necessário, abrirmos mão do que temos ou até de nós mesmos em benefício do semelhante. Falta amor por Jesus e pelo próximo. Cristo não é amado e os necessitados continuam necessitados. Há muitas igrejas tão ricas em termos de tradições e posturas, mas tão pobres em amor. À semelhança do jovem de qualidades, nós também temos muitas qualidades, mas igualmente ainda nos falta uma coisa. É possível que estejamos direcionando o foco no que não é mais importante. Às vezes achamos que estamos impressionando a Jesus, mas ele insiste em nos dizer que ainda nos falta uma coisa. Somos muito apegados a nós mesmos e ao que temos. Há igrejas que se orgulham de seu patrimônio, da exubarância de seu prédio, e do elevado volume de dinheiro arrecadado com os dízimos e ofertas. E muitas das que não têm todos esses recursos encerram em tê-los a razão de sua luta e trabalho. Aí cresce o orgulho, a insensibilidade para com as necassidades alheias e até mesmo se perde a visão da presença de Jesus. Nesse caso, de nada adianta para Deus as tradições, o discurso elevado e o rigor na prática de doutrinas e leis. Ainda continuará faltando-nos uma coisa.
Acho que é hora de avaliarmos o que somos e o que pede de fato o evangelho de Jesus, para depois fazermos uma decisão sincera a respeito de que tipo de igreja queremos ser. Ou uma igreja que ama incondicionalmente a Jesus e espalha esse amor pela humanidade, ou apenas uma igreja cheia de qualidades. Que Deus nos dê a graça de que quando entrarmos em sua presença jamais venhamos ouvi-lo dizer: “ainda te falta uma coisa”.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
SOLIDÃO PÓS-MODERNA
por: Rubem Martins Amorese
O Século XXI é mutante. Isso não chega a ser novidade, se pensarmos que o homem sempre esteve, digamos, evoluindo. A ciência e a tecnologia estão aí, dando saltos imensos, em frentes que vão da microbiologia e seus transgênicos à busca do deslindamento da história do universo, através das lentes de poderosos telescópios.
Somos mutantes, no entanto, no sentido de que nossa humanidade se perde nessas mudanças. Elas são em número e velocidade acima de nossa capacidade de absorção. Alienação passa a ser um antiácido a ser ingerido juntamente com a salada de frutas de informação que temos que deglutir todo dia.
Nossa desumanização começa, por exemplo, quando abrimos mão da casa paterna para tentar a vida em uma outra cidade ou país — e nunca mais voltamos. Nossos pais ficam sem netos e nossos filhos sem avós e tios. E nossa história, nossos valores, ideais, referenciais e heróis; nosso patrimônio simbólico, enfim, se perde na distância.
Longe da família e da igreja de origem, buscamos formar uma nova família. Uma família plasmada na correria da vida, na superficialidade, na sensualidade e na urgência oriunda de uma crescente carência afetiva. Tentamos reter na memória a nossa velha humanidade, mas já não nos sentimos à vontade abrindo o coração, falando do mundo interior, de sonhos, de ideais, de projetos de vida que, eventualmente, possam ser vividos a dois. "Ficamos" até onde for possível.
No ambiente de trabalho, as relações são cordiais o suficiente para esconder a luta encarniçada estabelecida pela competição: somente os mais adaptados sobrevivem. Os encontros, festas, almoços e jantares de negócio são o que resta dos laços cálidos e duradouros dos companheiros da infância.
Para sobreviver nesse ambiente hostil e exigente, pai e mãe precisam trabalhar. Para serem alguém, algo mais que simples "mão-de-obra", precisam de toda a energia disponível para tocar uma carreira de sucesso. Precisam vencer na vida. E essa vitória não comporta filhos. Pelo menos não do jeito antigo: filhos para serem amados em um convívio extenso e intenso. Agora eles são "curtidos" nos finais de semana em que não estejamos viajando a serviço. Durante a semana, terão uma boa educação numa creche ou numa escola de tempo integral. Desmamados cedo, eles aprendem a ser independentes.
Quando o divórcio vem (a carreira pode exigir), eles passam a viver ora com o pai, ora com a mãe — e com seus meio-irmãos, oriundos do novo casamento do pai e da mãe.
Não tenhamos pena desses nossos filhos. Eles se adaptarão. Sobreviverão e serão parecidos conosco. Não, serão melhores. Serão mais fortes e resistentes às distâncias, indiferenças e separações. Serão adaptados a um mundo onde não se olha para dentro, para a alma; aprenderão a ligar a televisão para não ouvir o silêncio; aprenderão a se ligar às pessoas sem chegar perto; aprenderão a confiar desconfiando e a não esperar misericórdia; aprenderão a fazer amor sem amar; aprenderão a viver no Século XXI. São mutantes.
Alguns deles, um dia, numa praça, numa esquina, ouvirão dizer que "Cristo salva". E pensarão: "não estou morrendo". Outros, no entanto, compreenderão que nEle lhes é possível uma nova e antiga humanidade — a humanidade original, na qual o colo do pai, da mãe, de tios e avós lhes é restaurado no mistério da igreja; no milagre da regeneração de seu próprio interior. Salvação. Nossos filhos mutantes, perdidos e órfãos ouvirão: "assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus" (Ef 2, 19)— e crerão.
O Século XXI é mutante. Isso não chega a ser novidade, se pensarmos que o homem sempre esteve, digamos, evoluindo. A ciência e a tecnologia estão aí, dando saltos imensos, em frentes que vão da microbiologia e seus transgênicos à busca do deslindamento da história do universo, através das lentes de poderosos telescópios.
Somos mutantes, no entanto, no sentido de que nossa humanidade se perde nessas mudanças. Elas são em número e velocidade acima de nossa capacidade de absorção. Alienação passa a ser um antiácido a ser ingerido juntamente com a salada de frutas de informação que temos que deglutir todo dia.
Nossa desumanização começa, por exemplo, quando abrimos mão da casa paterna para tentar a vida em uma outra cidade ou país — e nunca mais voltamos. Nossos pais ficam sem netos e nossos filhos sem avós e tios. E nossa história, nossos valores, ideais, referenciais e heróis; nosso patrimônio simbólico, enfim, se perde na distância.
Longe da família e da igreja de origem, buscamos formar uma nova família. Uma família plasmada na correria da vida, na superficialidade, na sensualidade e na urgência oriunda de uma crescente carência afetiva. Tentamos reter na memória a nossa velha humanidade, mas já não nos sentimos à vontade abrindo o coração, falando do mundo interior, de sonhos, de ideais, de projetos de vida que, eventualmente, possam ser vividos a dois. "Ficamos" até onde for possível.
No ambiente de trabalho, as relações são cordiais o suficiente para esconder a luta encarniçada estabelecida pela competição: somente os mais adaptados sobrevivem. Os encontros, festas, almoços e jantares de negócio são o que resta dos laços cálidos e duradouros dos companheiros da infância.
Para sobreviver nesse ambiente hostil e exigente, pai e mãe precisam trabalhar. Para serem alguém, algo mais que simples "mão-de-obra", precisam de toda a energia disponível para tocar uma carreira de sucesso. Precisam vencer na vida. E essa vitória não comporta filhos. Pelo menos não do jeito antigo: filhos para serem amados em um convívio extenso e intenso. Agora eles são "curtidos" nos finais de semana em que não estejamos viajando a serviço. Durante a semana, terão uma boa educação numa creche ou numa escola de tempo integral. Desmamados cedo, eles aprendem a ser independentes.
Quando o divórcio vem (a carreira pode exigir), eles passam a viver ora com o pai, ora com a mãe — e com seus meio-irmãos, oriundos do novo casamento do pai e da mãe.
Não tenhamos pena desses nossos filhos. Eles se adaptarão. Sobreviverão e serão parecidos conosco. Não, serão melhores. Serão mais fortes e resistentes às distâncias, indiferenças e separações. Serão adaptados a um mundo onde não se olha para dentro, para a alma; aprenderão a ligar a televisão para não ouvir o silêncio; aprenderão a se ligar às pessoas sem chegar perto; aprenderão a confiar desconfiando e a não esperar misericórdia; aprenderão a fazer amor sem amar; aprenderão a viver no Século XXI. São mutantes.
Alguns deles, um dia, numa praça, numa esquina, ouvirão dizer que "Cristo salva". E pensarão: "não estou morrendo". Outros, no entanto, compreenderão que nEle lhes é possível uma nova e antiga humanidade — a humanidade original, na qual o colo do pai, da mãe, de tios e avós lhes é restaurado no mistério da igreja; no milagre da regeneração de seu próprio interior. Salvação. Nossos filhos mutantes, perdidos e órfãos ouvirão: "assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus" (Ef 2, 19)— e crerão.
Assinar:
Postagens (Atom)