quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

QUAL A RESPOSTA CRISTÃ PARA O SOFRIMENTO?


Por: Jease Costa

Esse tema já está vastamente abordado por grandes pensadores, tanto no meio religioso quanto no secular. Portanto, esse texto não tem a pretensão de ser uma voz que se destaque entre tantas que já ecoam de forma tão lúcida sobre o tema. Quero apenas compartilhar um pensamento com o propósito de provocar em você uma reflexão a mais, e, quem sabe, possa lhe ser útil tanto do ponto de vista da construção do pensamento quanto do pragmatismo, uma vez que todos nós precisamos, volta e meia, desatar os nós das crises existenciais que a dor implacavelmente nos impõe.

A problemática do sofrimento não faz parte do escopo da ciência, mas da filosofia e da religião, e por isso não há como concluir com precisão cartesiana a resposta para essa difícil questão. Entretanto, minha opinião não parte, a princípio, da análise do pensamento cristão, mas do pensamento budista. Diz o budismo que “viver é sofrer”. Bem, se isso for verdadeiro, então não há saída para o problema existencial, uma vez que um dos grandes objetivos da vida, da luta, da fé e, até mesmo, do sofrimento humano é justamente alcançar o bem-estar tanto individual quanto social. Mas se viver é sofrer, encerra-se aí todo o sentido da busca humana. Assim, me parece que essa visão é extremamente pessimista e não resolve a grande questão.

Temos também, entre outros, os pensamentos judaico e espírita que em um aspecto se assemelham, mas que se divergem, entre outros aspectos, quanto ao fator tempo. Para o espírita, o sofrimento é resultado do mau comportamento em encarnações passadas. Se um indivíduo age mal nessa encarnação, é possível que na próxima venha a padecer em algum aspecto da vida a fim de passar por um processo de purificação, ao mesmo tempo em que de justiça, para que em encarnações futuras venha a alcançar uma condição de vida mais elevada. Já o pensamento judaico, se assemelha quanto ao fato de que o sofrimento é resultado de erros e pecados cometidos. Quem lê o livro de Jó percebe esse conceito com muita clareza, e é justamente esse conceito que faz com que a crise de Jó se agrave, uma vez que a vida dele estava experimentando uma tremenda contradição conceitual. Ou seja, se o sofrimento é resultado do pecado, como ele estava sofrendo tanto, já que seu comportamento até então era íntegro, reto e distante do mal? A diferença quanto ao conceito espírita é que, não crendo na reencarnação, o hebreu entendia que a punição se dá aqui e agora.

Entre outras respostas que se tem procurado dar ao longo dos tempos para a questão do sofrimento humano, devemos, portanto, procurar a resposta cristã. Bem, além do fato de a teologia atribuir a entrada do sofrimento na experiência humana à entrada do pecado, parece-me que o cristianismo não tem como preocupação principal responder a essa questão de forma que vá além desse conceito teológico apresentado. Por isso, o cristianismo, ao invés de procurar responder sobre o porquê do sofrimento humano, oferece uma proposta de conduta frente a essa realidade inescapável. E sua proposta é justamente o enfrentamento. São palavras de Jesus: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo. Eu venci o mundo.” O cristianismo entende que mais produtivo do que avaliar o porquê do sofrimento é apresentar uma proposta de conduta, de comportamento. O cristianismo entende que o indivíduo, com base na fé em Deus e na convicção de sua presença em todos os momentos de sua existência, deve enfrentar a vida com esperança. A palavra de Jesus não é: “recue”, “desista” ou "fuja”, mas, antes, “Enfrente! Vamos juntos.”

Mas a teologia vigente tem deturpado esse conceito cristão. Hoje prega-se um cristianismo que estimula as facilidades, a ausência da dor e o menosprezo ao sofrimento. Entretanto, isso é uma distorção dos pressupostos do evangelho de Jesus. Stanley Jones, em seu livro “Cristo e o Sofrimento Humano” diz muito acertadamente que “Deus não nos trata como crianças mimadas”, e que “uma criança mimada é uma criança estragada”. Jesus, de acordo com o profeta Isaías, é o “Servo Sofredor”. Além do mais, o cristianismo entende que o aperfeiçoamento da vida ocorre na tormenta. O apóstolo Paulo, em sua carta aos filipenses disse: “Sei passar por todo tipo de sofrimentos [...] Portanto, em tudo já estou experimentado”. E de igual modo não foi na passagem pelo Mar Vermelho que o povo hebreu se aperfeiçoou e se fortaleceu, mas na dureza do deserto. Não foram aquelas horas de travessia do mar que o aperfeiçoou, mas os 40 anos de deserto.

Portanto, não creio que seja tão produtivo ficar procurando respostas ou os porquês do sofrimento humano. Mais importante é acatar a palavra de Jesus: “Tende bom ânimo!” O cristianismo nos chama para o enfrentamento. E é bom que seja assim. Deus não nos quer crianças imaturas, mas, antes, homens e mulheres maduros e que tenham recursos internos para enfrentar a vida. Viver não é sofrer. Viver implica em sofrer. E ser cristão, mesmo em meio à dor, implica em viver. Portanto, ânimo!

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